A música faz parte do cotidiano do planeta desde tempos imemoriais, e quando considerada uma abordagem naturalista chega-se a conclusão de que ela existe antes mesmo de ser ouvida. Também não adianta tentar defini-la, inexiste um conceito único que abarque todos os seus significados.
Do ponto de vista industrial, a música manteve por longo tempo uma relação íntima, e praticamente exclusiva, com as emissoras de rádios e a indústria fonográfica. E antes da televisão dominar lares ao redor do mundo e muito antes da tecnologia subverter todo o mercado, era o rádio que reinava soberano: ditava moda, determinava tendências, construía mitos e apontava sucessos. Capítulos importantes dessa história sonora passaram a ser contados diariamente aqui no Rio Grande do Norte, na faixa de 640 kilohertz, a partir de 1954, quando a Rádio Cabugi AM entrou no ar.
Prestes a completar dez anos como integrante de uma rede nacional, quando, a partir de 2002, passou a ser sintonizada como Rádio Globo Natal, a emissora é hoje guardiã do maior acervo de discos de vinil do Estado - entre LPs e compactos, aqueles disquinhos promocionais que traziam uma única música gravada de cada lado, as chamadas "músicas de trabalho" (ou singles) que atualmente são disponibilizadas gratuitamente na internet.
A programação local da rádio encolheu, atualmente representa apenas 30%, e a música deixou de ter um espaço de destaque dentro da grade - que enfatiza a cobertura esportiva. Apenas o programa "Manhã da Globo" (antigo "Cabugi o Povo no Rádio"), que tem perfil social de utilidade pública, apresentado por Duarte Júnior entre 9h e 11h (horário de verão), abre brecha para a música.
"No auge das grandes gravadoras multinacionais, a rádio chegou a receber 20 novos lançamentos por semana, e era sempre uma festa quando vinham artistas aqui na rádio divulgar um novo trabalho. Aí veio o Governo Collor de Mello e as gravadoras perderam força", recorda Ednalva Moura, programadora musical da rádio e responsável pela manutenção do acervo, que contabiliza quase 30 mil unidades. Pelas contas de Ednalva, passaram pelos estúdios da Rádio Cabugi nomes como Jerry Adriani, Gilberto Gil, Sandra de Sá, Amado Batista, José Augusto, Waldick Soriano, Fafá de Belém, Dominguinhos, Alcimar Monteiro, a ainda dupla João Daniel e Daniel, Wando e o cantor espanhol Manolo Otero.
DE BEATLES A ROBERTO CARLOS
Quando o acervo ocupava uma sala maior, a programadora mantinha o registro de todos os discos devidamente organizados. "Na última contagem, no início dos anos 2000, eram mais de 28 mil, hoje aumentou um pouco mas não temos mais os livros de catálogos. Mas sei exatamente quais e onde estão praticamente todos", disse com a autoridade de quem trabalha desde 1978 entre os discos.
"Hoje está tudo por ordem alfabética e separado por estilo: orquestra, trilha sonora de filmes, grupos e bandas, cantores e cantoras, novelas. Desse lado os internacionais, do outro os nacionais", aponta a radialista, mostrando na estante a coleção quase completa dos Beatles, do Roberto Carlos, Menudos(!) e Sérgio Reis, entre outros - todos exemplares promocionais. "Tem de tudo, e não dá para destacar raridades: são muitas. Olha esse aqui por exemplo! Um compacto gravado em 1976 por Lima Duarte declamando poemas", disse Ednalva Moura, que por quatro mandatos consecutivos (ou 12 anos) foi presidente do Sindicato dos Radialistas do RN.
DO TEMPO EM QUE NÃO HAVIA PIRATARIA
Ela também chama atenção para a mudança no perfil da programação das rádios promovida pela chegada das emissoras em Frequência Modulada (FM), período que as emissoras AMs (Amplitude Modulada) voltaram seu foco para a programas de utilidade pública, prestação de serviço, esporte e noticiário. "As FMs mudaram os hábitos dos ouvintes, o jabá impera, tem comercial demais. Hoje é só bumbum, dancinhas... antes havia poesia na música. Ainda cheguei a pegar aquele tempo da censura, quando tínhamos que levar a programação diária para ser aprovada pelo censor", lembra.
"Creio que os artistas devem sentir falta daquela época, quando não havia pirataria", disse a programadora com saudade.
Outra curiosidade garimpada no acervo são LPs com entrevistas completas de artistas como Gal Costa e Rosemary, por exemplo, que eram executadas na rádio como se os artistas realmente estivessem concedendo entrevistas ao vivo. Os discos vinham com todo o roteiro das perguntas e respostas na contra-capa. Para se ter uma ideia da importância histórica de um acervo como o da Rádio Cabugi (Globo Natal), em março do ano passada, quando a presidenta Dilma Rousseff esteve no RN passando o Carnaval hospedada na Barreira do Inferno, a reportagem do VIVER foi pesquisar nos arquivos da rádio a marchinha "Barreira do Inferno", composição de Magnus Kelly gravada nos anos sessenta.
"Por enquanto ainda não há um projeto para digitalizar o acervo, mas vamos continuar mantendo tudo organizado para continuar atender pessoas interessadas no acervo, em pesquisar a história recente da música e mesmo buscar uma música específica que só existe em LP."
Fonte: TNOnline
Alberto LeandroCom o maior acervo de discos de vinil do Estado, próximo a 30 mil Lps, discoteca da Rádio Cabugi (Globo) possui raridades da MPB, potiguar, internacional e até entrevistas e poesia em LP.
Do ponto de vista industrial, a música manteve por longo tempo uma relação íntima, e praticamente exclusiva, com as emissoras de rádios e a indústria fonográfica. E antes da televisão dominar lares ao redor do mundo e muito antes da tecnologia subverter todo o mercado, era o rádio que reinava soberano: ditava moda, determinava tendências, construía mitos e apontava sucessos. Capítulos importantes dessa história sonora passaram a ser contados diariamente aqui no Rio Grande do Norte, na faixa de 640 kilohertz, a partir de 1954, quando a Rádio Cabugi AM entrou no ar.
Prestes a completar dez anos como integrante de uma rede nacional, quando, a partir de 2002, passou a ser sintonizada como Rádio Globo Natal, a emissora é hoje guardiã do maior acervo de discos de vinil do Estado - entre LPs e compactos, aqueles disquinhos promocionais que traziam uma única música gravada de cada lado, as chamadas "músicas de trabalho" (ou singles) que atualmente são disponibilizadas gratuitamente na internet.
A programação local da rádio encolheu, atualmente representa apenas 30%, e a música deixou de ter um espaço de destaque dentro da grade - que enfatiza a cobertura esportiva. Apenas o programa "Manhã da Globo" (antigo "Cabugi o Povo no Rádio"), que tem perfil social de utilidade pública, apresentado por Duarte Júnior entre 9h e 11h (horário de verão), abre brecha para a música.
"No auge das grandes gravadoras multinacionais, a rádio chegou a receber 20 novos lançamentos por semana, e era sempre uma festa quando vinham artistas aqui na rádio divulgar um novo trabalho. Aí veio o Governo Collor de Mello e as gravadoras perderam força", recorda Ednalva Moura, programadora musical da rádio e responsável pela manutenção do acervo, que contabiliza quase 30 mil unidades. Pelas contas de Ednalva, passaram pelos estúdios da Rádio Cabugi nomes como Jerry Adriani, Gilberto Gil, Sandra de Sá, Amado Batista, José Augusto, Waldick Soriano, Fafá de Belém, Dominguinhos, Alcimar Monteiro, a ainda dupla João Daniel e Daniel, Wando e o cantor espanhol Manolo Otero.
DE BEATLES A ROBERTO CARLOS
Quando o acervo ocupava uma sala maior, a programadora mantinha o registro de todos os discos devidamente organizados. "Na última contagem, no início dos anos 2000, eram mais de 28 mil, hoje aumentou um pouco mas não temos mais os livros de catálogos. Mas sei exatamente quais e onde estão praticamente todos", disse com a autoridade de quem trabalha desde 1978 entre os discos.
"Hoje está tudo por ordem alfabética e separado por estilo: orquestra, trilha sonora de filmes, grupos e bandas, cantores e cantoras, novelas. Desse lado os internacionais, do outro os nacionais", aponta a radialista, mostrando na estante a coleção quase completa dos Beatles, do Roberto Carlos, Menudos(!) e Sérgio Reis, entre outros - todos exemplares promocionais. "Tem de tudo, e não dá para destacar raridades: são muitas. Olha esse aqui por exemplo! Um compacto gravado em 1976 por Lima Duarte declamando poemas", disse Ednalva Moura, que por quatro mandatos consecutivos (ou 12 anos) foi presidente do Sindicato dos Radialistas do RN.
DO TEMPO EM QUE NÃO HAVIA PIRATARIA
Alberto LeandroEdnalva Moura, programadora musical da Rádio Globo Natal (Cabugi)
Aposentada desde 2008, ela ouve de tudo e diz que prefere continuar cuidando da discoteca "até quando me quiserem aqui na rádio. Adoro meu trabalho, adoro a rádio", revela. A programadora chegou a substituir a locutora Nice Fernandes por três meses, no programa policial "Patrulha da Cidade": "Era um programa com muita audiência, a produção era cuidadosa e os casos eram dramatizados, tinha sonoplastia". Ednalva acredita que o público "sente falta de uma emissora que abra espaço para tratar de temas locais, sente falta de participação".Ela também chama atenção para a mudança no perfil da programação das rádios promovida pela chegada das emissoras em Frequência Modulada (FM), período que as emissoras AMs (Amplitude Modulada) voltaram seu foco para a programas de utilidade pública, prestação de serviço, esporte e noticiário. "As FMs mudaram os hábitos dos ouvintes, o jabá impera, tem comercial demais. Hoje é só bumbum, dancinhas... antes havia poesia na música. Ainda cheguei a pegar aquele tempo da censura, quando tínhamos que levar a programação diária para ser aprovada pelo censor", lembra.
"Creio que os artistas devem sentir falta daquela época, quando não havia pirataria", disse a programadora com saudade.
Outra curiosidade garimpada no acervo são LPs com entrevistas completas de artistas como Gal Costa e Rosemary, por exemplo, que eram executadas na rádio como se os artistas realmente estivessem concedendo entrevistas ao vivo. Os discos vinham com todo o roteiro das perguntas e respostas na contra-capa. Para se ter uma ideia da importância histórica de um acervo como o da Rádio Cabugi (Globo Natal), em março do ano passada, quando a presidenta Dilma Rousseff esteve no RN passando o Carnaval hospedada na Barreira do Inferno, a reportagem do VIVER foi pesquisar nos arquivos da rádio a marchinha "Barreira do Inferno", composição de Magnus Kelly gravada nos anos sessenta.
"Por enquanto ainda não há um projeto para digitalizar o acervo, mas vamos continuar mantendo tudo organizado para continuar atender pessoas interessadas no acervo, em pesquisar a história recente da música e mesmo buscar uma música específica que só existe em LP."
Fonte: TNOnline
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