sexta-feira, 22 de julho de 2011

Na era digital, UNE busca espaço

A União Nacional dos Estudantes (UNE) elegeu no domingo (17), durante seu 52º Congresso, em Goiânia, o novo presidente da instituição. Daniel Iliescu, de 26 anos, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio, conquistou 75% da preferência dos votantes.

Em entrevista à CartaCapital, o líder estudantil evitou subir o tom sobre os críticos da mídia. Em vez disso, defendeu a liberdade e o diálogo com a imprensa. A mensagem, com a bandeira branca aos críticos, foi reforçada por meio do Twitter — ferramenta que até pouco tempo parecia abandonada pelo dirigente, se levadas em conta as poucas e espaçadas mensagens postados no microblog.

O estudante de voz mansa, filiado ao PCdoB, aposta na convergência tecnológica e nas redes sociais para tentar avançar o espaço da UNE no âmbito das movimentações sociais. Nos últimos tempos, tornaram-se cada vez mais comuns os protestos nos mais diversos cantos do Brasil convocados por ferramentas online, como Facebook ou Twitter, sem a intermediação de entidades estudantis, sindicais ou partidárias.

Para Iliescu, a UNE não perdeu espaço no contexto da mobilização social. Segundo ele, foram os jovens que se inseriram na vida do país como protagonistas. “O mundo mudou muito nas últimas décadas e as tecnologias têm uma interferência na forma da juventude se comunicar e organizar. A UNE está inserida nisso”.

Ele se refere ao novo site da entidade, lançado recentemente. Criado para aproveitar a abrangência das redes sociais, o portal abre espaço para Facebook, Twitter, fotos e componentes em Flash para dar movimento. “Há uma diversificação cada vez maior das formas de manifestação e lutas e vemos isso com bons olhos”, diz.

Em seu perfil publicado no site da UNE, Daniel Iliescu é definido como um “fã de samba e de rock progressivo, de mochila nas costas e tênis batidos, [que] acompanha as últimas notícias pelo smartphone de onde acessa o Twitter e o Facebook”. Diz monitorar os blogs de política pela internet, mas não abre mão também dos jornais de papel.

Preocupado em conquistar espaço em outras camadas da sociedade, além da estudantil, Iliescu defende uma abordagem mais ampla da UNE. “Temos nos esforçado para participar dos últimos protestos, fazendo com que a entidade consiga dar opinião em diversas questões. No último Congresso, discutimos desde política a sexualidade”, destaca.

Quanto às outras metas de sua gestão, como a destinação de 10% do PIB para a educação até 2014, ante os 7% propostos pelo governo até 2020, Iliescu é incisivo. “Reconhecemos o esforço, mas não é o suficiente”. Ele propõe o envio de 50% dos recursos do pré-sal para o setor. “O Brasil já teve ciclos de desenvolvimento acelerado com concentração de renda. Queremos que o pré-sal ajude a vincular crescimento com distribuição de renda. Na opinião da UNE a educação é a maneira mais eficiente de fazer isso.”

A estudante ainda rebate a afirmação de que a UNE é dominada atualmente pelo PCdoB, ressaltando a pluralidade da entidade. “Participaram do 52º Congresso quase 10 mil estudantes com visões de mundo diversas e boa parte deles sem filiação partidária. Dentro dos que são filiados, há representantes de praticamente todos os partidos em nossa direção.”

Ao ser contestado sobre se o modelo de eleição da UNE por delgados – indivíduos escolhidos nas universidades para representar os estudantes na plenária final do congresso – não abria a possibilidade de compra de votos, ele afirma que desconhece uma alternativa mais eficiente. “O Brasil deve ser orgulhar de ter uma entidade com um processo como o congresso da UNE. É uma eleição transparente, consolidada e um modelo reconhecido, que possibilita maior credibilidade”.

Sobre o futuro na cena política nacional, um caminho comum para os que chegam à presidência da UNE, como o ex-governador de São Paulo José Serra e o ministro dos Esportes, Orlando Silva, o estudante diz que pretende seguir a carreira acadêmica. “Meus pais são professores universitários e também me interesso por essa área”, conta, mas adianta que a opção não é definitiva. “A ideia de se dedicar à vida pública algo generoso”.

Tradição
Criada em 1937, a UNE se consolidou como um movimento organizado capaz de unir diversos setores sociais e levar uma série de reivindicações a público. Com papel de destaque na luta pela redemocratização do país no período da ditadura militar, a instituição se tornou também um celeiro de políticos de expressão nacional.

Figuras como o ex-governador de São Paulo José Serra (1963-1964), o deputado federal e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (1980-1981) e o atual ministro dos Esportes, Orlando Silva (1995-1997) ocuparam a cadeira de presidente da UNE. Além de Orlando, dois ex-presidentes da entidade têm ligação direta com o ministério — Ricardo Cappelli e Wadson Ribeiro. Outro ex-dirigente, Gustavo Petta, é hoje secretário municipal de Esportes em Campinas.

Da Redação, com informações da CartaCapital

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