sexta-feira, 22 de julho de 2011

Promiscuidade entre Murdoch e polícia já dura pelo menos 30 anos


A relação estreita entre jornais do magnata Rupert Murdoch e a polícia britânica não começou com o escândalo do News of the World, mas tem um histórico de pelo menos três décadas. Documentos recém-divulgados pelo Arquivo Nacional britânico mostram como, em 1970, meses após Murdoch ter comprado o tabloide The Sun, o então editor convenceu a Scotland Yard a fazer um grande favor ao jornal.

Meses antes, o famoso "assaltante do trem pagador" Ronald Biggs foi visto na Austrália, após fugir da prisão. A polícia local fez uma grande operação para prendê-lo, mas ele conseguiu escapar. Em abril de 1970, o Sun obteve um documento de 77 páginas que seria a autobiografia de Biggs. Um advogado de Melbourne teria tentado vendê-lo. Um outro jornal de Murdoch, na Austrália, iria publicar a história também.

Cada página estava marcada com a impressão digital de Biggs e sua assinatura. Mas como verificar se eram genuínas? O tabloide britânico enviou uma cópia do documento ao comandante da polícia britânica Wallace Virgo, para que a Scotland Yard pudesse autenticar as assinaturas e as digitais.

Rapidamente, a polícia checou os dados e confirmou que as digitais batiam com os registros policiais de Biggs, mas que poderia ter sido usado um carimbo para replicá-las. Já as assinaturas seriam falsificadas, provavelmente por uma mulher, já que as letras tinham "características femininas".

Após dois dias, Virgo passou as conclusões para o editor Larry Lamb — e o jornal passou a ter um furo de reportagem autenticado por ninguém menos que a Scotland Yard. Quando a notícia foi publicada também no jornal australiano de Murdoch, a polícia local ficou chocada pelo fato de seus colegas britânicos terem "apoiado essa empreitada do jornal e, ajudando um criminoso, terem exposto as duas corporações ao ridículo".

Em seguida, o arquivo registra apenas mais algumas ações da polícia australiana e chega ao fim. Na época, houve crítica ao Sun já que Biggs era o homem mais procurado da Grã-Bretanha. Houve ainda alguns questionamentos por parlamentares. Além disso, nenhuma ação real foi tomada.

O jornalista Duncan Campbell, que pesquisa corrupção policial nos anos 70 e 80, vê alguns paralelos entre o escândalo atual do News of the World e essa "amizade" entre editores e comandantes da polícia. Mas, segundo ele, há diferenças importantes entre os dois casos, principalmente no que diz respeito à escala e à natureza da relação.

Virgo, o chefe da polícia que ajudou o jornal na época, se tornou mais tarde o oficial de mais alta hierarquia da Scotland Yard a ser processado por corrupção, após ser revelado que ele recebia propina de um homem envolvido com pornografia. Já Biggs vive atualmente na Grã-Bretanha e, aos 81 anos, enfrenta um precário estado de saúde.

Em 2001, depois de viver por 35 anos no Brasil, Biggs decidiu voltar para Londes, onde foi preso para cumprir o restante de sua sentença. Ele foi solto oito anos depois, após sofrer uma série de derrames.

Da Redação, com informações da BBC

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