Todo natalense já sentiu o cheiro forte que exala do Canto do Mangue e do Mercado do Peixe. Onipotente como o sol do meio dia, ele é responsável pelo afastamento de clientes de classe média, indispostos a enfrentar a estrutura precária do local – o mesmo cenário observado quanto às feiras livres. O que poderia custar R$ 10 o quilo, ganha relevo na lista do supermercado. Portanto, toda medida criada para melhorar o serviço deve ser louvada.
Com a notícia de que o Ministério da Pesca e Agricultura registrará pescadores através de um novo cartão magnético, entregues em todo o país a partir de ontem (09), com a ideia de combater a falsificação de seguro defeso e funcionar como um RG dos profissionais, cria-se a expectativa de aperfeiçoamento de uma atividade econômica tradicional e fornecedora de matéria-prima para a almejada alimentação saudável.
No entanto, ressabiados com qualquer ação que omita benefícios imediatos, pescadores do Canto do Mangue conversaram com a reportagem sobre a difícil situação por que passam nos últimos anos. João Batista Matias da Silva conhece o Litoral Potiguar como a palma da mão. Dono de um barco que comporta até 10 toneladas, ele vive da pesca há 35 anos. “Tô atrás de vender meu barco porque, hoje, pescar é sem futuro”. A palavra-chave de sua reclamação é simples: atravessadores.
“Essa carteira é mais uma coisa para eles ganharem dinheiro da gente. Por enquanto, ninguém veio aqui falar com a gente. Mas quando vierem, vão pedir cinco reais, que nem uma carteira que fizemos uns quatro anos atrás para nada”. Sem verba para custear as despesas antes de adentrar o mar, pescadores artesanais viram reféns de negociantes que assumem os custos em troca do pescado barato, com valores ínfimos, se comparado com os praticados no próprio Mercado do Peixe.
“Eu já saio daqui tendo que comprar cinco toneladas de gelo, o que dá uns R$ 3,5 mil. Gasto também com óleo, complemento de material e dou R$ 150 para cada pescador, como pagamento pelos dias que ele ficará no mar comigo. Sem esse pagamento antecipado, eles nem entram no barco. Então, tem uns dois, três caras que vivem por aqui e pagam isso tudo. Só que compram nosso peixe com o preço muito baixo. Às vezes, nós voltamos do mar já devendo para eles”.
Já no Mercado, a fedentina e instalações precárias servem de saldo dos dois últimos anos – período em que, segundo donos de boxes, o abandono virou regra. Coleta de lixo duas vezes ao mês, nenhuma limpeza nos corredores, parte elétrica danificada, são inúmeros os apontamentos dos comerciantes. Lúcio Rodrigues, com 30 anos de Mercado, lembra a falta de vigia, arrombamentos e elevação dos gastos, com a compra de material de limpeza.
A venda até que está boa, mas a estrutura aqui está fraca. Agora, de uns quinze dias para cá, que começaram a coletar o lixo todo dia, como tem que ser num canto que tem peixe. E mandaram um técnico da Semsur consertar a fiação de meu amigo”. Lúcio aponta para box em frente a reportagem, que confere o trabalho elétrico em execução. “Passamos 2011 e 2012, gastando, em média, R$ 80, R$ 120 só com desinfetante”.
Em Brasília, onde participa de uma reunião sobre a pesca da lagosta, o subsecretário estadual da pesca e aquicultura e presidente da Confederação Nacional dos Pescadores, Abrão Lincoln, destaca a importância da carteira de pescador profissional e do Plano Safra, antídotos contra o enfraquecimento de um importante segmento da economia potiguar. “Todas as carteiras serão distribuídas gratuitamente. No próximo dia 25, teremos uma solenidade de entrega com a presença do ministro Marcelo Crivella. O Rio Grande do Norte será o segundo Estado do Brasil a recebê-las. Na ocasião, será também lançado o Plano Safra que, junto com as carteiras, facilitarão o acesso dos pescadores ao crédito, afastando esses atravessadores”.
Com R$ 4,1 bilhões para empréstimos relativos à atividade aquífera, o Governo Federal pretende intensificar a produção de pescado no vasto litoral brasileiro. “No RN, pescadores já fizeram fila para adquirir a carteira. Com o novo método, podemos dizer que é o fim da burocracia. Entregaremos mais de 30 mil cartões, só aqui no Estado. De acordo com a data de nascimento de cada um. As antigas deixarão de valer assim que forem sendo entregues as novas. Com tudo isso, o Governo quer estimular uma política de financiamento”.
Fonte: JH Online
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