domingo, 28 de agosto de 2011


Achille Lollo: A Otan em busca de um massacre


Após 40 operações de bombardeios seletivos realizados dia e noite – sem interrupção, do dia 14 de agosto até o dia 22 de agosto – a Otan conseguiu, finalmente quebrar a resistência dos militares e dos partidários de Kadafi para os quais a violência das bombas foi muito educativa, inclusive porque os serviços secretos ocidentais conseguiram comprar a participação das tribos que apoiaram os rebeldes de Bengazi e, assim, todos juntos iniciaram o ataque final contra a capital, Trípoli.


Segundo a agência do Vaticano, Fides, os bombardeios entre os dias 19 e 22 de agosto – deixaram 1,3 mil mortos e cerca de 5 mil feridos, em sua maioria civis. De fato o porta-voz do CNT (Conselho Nacional de Transição) Abubakr Traboulsi, às 14h30min do dia 22, lançava um apelo às populações da capital Trípoli para que saíssem das ruas que cruzam com o “bairro presidencial”, chamado de Bab al-Azizia para evitar que fossem alvejados pelas bombas “inteligentes” que os aviões da Otan despejariam em todos os seis quilômetros quadrados que contemplam o bunker de Kadafi.

Segundo jornalistas europeus que ficaram perto do local, os aviões da Otan realizaram um “bombardeio a tapete” igual ao que os estadunidenses realizavam no Vietnã com as bombas de napalm. Porém, no caso da Líbia foram utilizadas as “bombas inteligentes” que perfuram o terreno e depois, quando encontram uma estrutura dura, fazem explodir uma segunda bomba que provoca a explosão em vertical e, assim, destruíam os túneis subterrâneos do bunker provocando a morte de todos aqueles que ficaram escondidos.

Todos contra Bab al-Azizia

Com uma superfície de seis quilômetros quadrados o bunker de Kadafi, conhecido por Bab al-Azizia é o ultimo centro estratégico que as tropas fieis ao coronel ainda mantinham sob seu controle [Até 22 de agosto - nota da redação], apesar do pesado bombardeio de quase 32 aviões da Otan, fornecidos pela França, Grã-Bretanha, e Itália.

Este será o objetivo final da Otan na tentativa de aniquilar fisicamente sob o peso das bombas os homens da 32ª Brigada e do Regimento das tropas especiais comandadas pelo filho de Kadafi, Khamis. A própria TV árabe Al-Arabia havia anunciado que o próprio Khamis estava liderando contra-ataques de tanques no leste da cidade.

Certo é que a heróica resistência dos homens de Khamis e a posição de princípio assumida pelo próprio Kadafi de não render-se à Otan, não vai mudar o cenário. Muito provavelmente Kadafi e seus fiéis morrerão soterrados nos escombros de Bab al-Azizia, visto que a violência dos bombardeios é tão brutal e chocante que o povo de Trípoli renunciou a resistir transformando a capital em uma segunda Estalingrado.

De fato, o medo de morrer debaixo das bombas ou de ser fuzilado pelos rebeldes, fez com que todos os ministros fugissem, levando suas famílias para a Tunísia para evitar o festival de estupros, saques e praticados pelos rebeldes contra todos os líbios suspeitos de ser um “quadro da administração” do governo de Kadafi.

Não às vinganças?

Graças ao silêncio da TV Al-Jazira e dos “assessores” fornecidos pelos serviços secretos militares de França, Grã Bretanha, os massacres praticados pelos rebeldes durante a reconquista de Misrata, Brega, Ras-Lanuff, Tobruk e na própria Bengazi nunca existiram. Para a Otan “a reconquista das cidades do leste foi quase pacífica acontecendo, sempre depois dos bombardeios”.

Na realidade, antes das tropas rebeldes entrarem nas cidades juntamente aos operadores da TV Al-Jazira e Al Arábia, entravam em ação grupos de “tropas especiais” que completavam o trabalho de aniquilamento dos feridos, além de fazer de prisioneiros apenas os oficiais que queriam colaborar. Para os demais, feridos ou presos, havia a lei do deserto: um tiro na cabeça com o corpo, sem uniforme, abandonado nas areias.

Por isso tudo, no dia 21, no momento em que as tropas dos rebeldes esperavam o fim dos bombardeios para entrar na capital Trípoli, o máximo dirigente do Conselho Nacional de Transição, Mahmoud Jibril fez um apelo aos seus soldados pedindo expressamente de evitar cometer qualquer tipo de vinganças em Trípoli. “Hoje que festejamos a vitória peço à vossa consciência e à vossa responsabilidade de não se vingar, de não fazer saques, de não atacar os trabalhadores estrangeiros e de respeitar os prisioneiros ”.

Um apelo retórico que serve apenas para iludir os jornalistas ocidentais que, de fato, preferem ignorar o tratamento que os soldados do CNT usam com os partidários de Kadafi quando não há câmeras das televisões ou a presença de jornalistas. 

A Otan e os fantoches do CNT

Os próprios membros do CNT admitem que sem a intervenção diária dos aviões da OTAN e sem a ajuda financeira e logística dos 40 países do “Grupo de Contato para a Líbia”, o exército rebelde nem sequer existiria e tão pouco teria defendido Bengazi em 24 de março, quando uma coluna do exército de Kadafi quis retomar a cidade .

Uma afirmação que revela quanto difícil e complicado será o processo de recomposição democrática em um país onde a rebelião foi teleguiada e monitorada pelos homens da OTAN e sem um líder com um projeto político apto a reunificar e reconstruir a nação, além de definir novas linhas de desenvolvimento econômico.

Mahmoud Jibril, hoje chefe dos rebeldes, na realidade era, apenas, um homem da corte do rei Idris II, que por sua parte era um fantoche da British Petroleum e da Occidental Petroleum. De fato, o golpe que o jovem tenente Kadafi efetuou quando o rei Idris foi à Itália para se embebedar nos bordeis mais sórdidos de Roma, foi muito fácil visto que o Estado construído pelo rei Idris II era uma fraca estrutura neocolonial, sem nenhuma relação com o povo.

Uma monarquia que se apoiava nas tribos majoritárias da Cirenaica tendo entregado as jóias da coroa (petróleo e gás) às multinacionais. Mahmoud Jibril cresceu neste cenário de subserviência política e não evoluiu. De fato, a primeira coisa que Mahmoud Jibril fez no CNT foi de adotar a antiga bandeira do rei Idris. Aliás, Jibril está sentado no lugar de presidente do CNT, apenas por ter sido preso durante 18 anos, quando encenou uma malograda revolta contra Kadafi.

Jibril não representa e não tem nenhum plano de renascimento político e econômico na Líbia. Por outro lado os demais lideres do CNT ligados à Irmandade Islâmica ou à seita fundamentalista dos Senussitas deverão negociar com os representantes das tribos a gestão conjunta de um faturamento fixado pelas multinacionais e não pelo novo governo da Líbia.

Neste contexto, cabe dizer que os governos do Ocidente decidiram apoiar os fantoches do CNT para ter um argumento juridicamente válido para justificar a manutenção de uma guerra capaz de destruir o regime de Kadafi. De fato este foi o único que aumentou em 80% a porcentagem que as multinacionais deviam pagar ao governo da Líbia para extrair petróleo e gás das areias do deserto.

Quando, em 14 de março, o presidente francês, Nicolas Sarkozy e o primeiro ministro britânico, Nick Cameron, declararam que em 14 de julho o regime de Kadafi devia ser aniquilado, não falavam em função do CNT, mas, sim, do custo político que o mundo financeiro estava tendo com a guerra na Líbia . Assim, quando no dia 20 de agosto a TV Al-Jazira veiculou a mentira de que Kadafi havia sido morto pelos aviões da Otan, para depois corrigir afirmando que o coronel devia estar preparando sua fuga para a Venezuela Bolivariana usando dois aviões do governo sul-africano, logo após as bolsas do mundo inteiro subiram e por um momento os dramas do desemprego europeu e estadunidense desapareceram, diante da possibilidade das multinacionais européias e estadunidenses vir a gerenciar as imensas reservas de petróleo e de gás da Líbia. 

Fonte: Brasil de Fato

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