A cultura pós-guerra na terra do sol
A publicação custará R$ 50 na ocasião, com direito a autógrafo do autor - depois poderá ser encontrado nas principais livrarias da cidade por R$ 70.
"A Scbeu, criada em 1957, tinha status de academia e sua trajetória se confundiu com a história da própria sociedade natalense na época. Foi lá que funcionou o primeiro cinema driving e a primeira biblioteca da cidade, criada por Zila Mamede em 1958. Sem falar dos intelectuais que participaram da fundação da escola, um ano antes de também fundarem a Universidade Federal", relembra Chagas, exaltando a importância da primeira escola de inglês da capital potiguar. "Gente da alta sociedade, artistas, intelectuais... três gerações estudaram na Scbeu", aponta o escritor, responsável pela edição mais volumosa já publicada pela Coleção João Nicodemos de Lima (326 títulos) do Sebo Vermelho.
Vale registrar que Zila viria a criar a biblioteca estadual Câmara Cascudo em 1969 e a Central da UFRN em 1974. A poeta e bibliotecária, ao lado de outras 42 personalidades do quilate do médico Onofre Lopes; do jurista Edgar Barbosa; do ex-governador Tarcísio Maia; do advogado Dalton Melo; Dom Nivaldo Monte; Humberto Nezi; Otto de Brito Guerra; Protásio de Melo, entre outros nomes não menos importantes no contexto histórico e social da cidade, participou da fundação da escola - que funcionou em um casarão com vista para o mar, no alto da Av. Getúlio Vargas, Petrópolis, próximo ao Hospital Universitário Onofre Lopes, em um terreno que ia até a Rua Cel. Joaquim Manoel (onde hoje funciona o edifício Harmony Medical Center). A escola ocupava um quarteirão inteiro.
A Guerra Fria e o rock and roll
Aluno, professor e derradeiro diretor da Scbeu, que funcionou entre 1957 e 1983, Juarez Chagas chegou a iniciar o livro logo após o encerramento das atividades da escola, mas percebeu "que se escrevesse a história completa seria um livro policial", conta Desistiu por um tempo. Mudou o foco, e só retomou o projeto em 2005: "Preferi ressaltar o lado bom dos tempos da Scbeu", pondera. O livro traz um rico acervo de documentos e fotografias que o autor conseguiu evitar que fossem parar no lixo - o autor tem todos os originais e contou com muitos colaboradores.
Chagas faz referências históricas e culturais para contextualizar o período retratado com o que andava rolando pelo resto do mundo, e lembra que as primeiras bandas de garagem conheceram o rock'n roll através do acervo de LPs e compactos da biblioteca. O pioneirismo da Scbeu também se reflete na realização das primeiras matinês e festas americanas da cidade. "O primeiro Halloween só foi promovido em 1963 devido a resistência das pessoas em comemorar um dia dedicado às bruxas", diverte-se.
A partir do livro de Juarez, pode-se entender como Natal continuou sendo 'bombardeada' pela cultura yankee mesmo depois da Segunda Guerra Mundial: "A Scbeu foi a primeira instituição binacional da cidade (Brasil-EUA), era um pedaço da América do Norte aqui e tudo o que acontecia lá fora chegava à cidade através da escola", garante o autor. "Era uma maneira dos Estados Unidos marcarem presença durante a Guerra Fria com os soviéticos", acrescentou.
Entre a turma roqueira presente "Nos bons tempos da Scbeu..." destaque para o cantor e compositor Leno; Reinaldo Azevedo, da banda Anos 60; os irmão Lima (Fon, Eustáquio e Lóla) d'Os Vândalos; e o jornalista Petit das Virgens, visto em retratos empunhando seu violão. O livro de 63 capítulos também traz 200 depoimentos de ex-alunos, professores e diretores da instituição. "Não tenho dúvidas que se trata de um registro histórico importante para se compreender as transformações e o momento atual da cidade", disse Juarez, com um ar de saudade no olhar.
O outro lado da história
A trajetória da Scbeu também guarda um lado obscuro, mal explicado, sobre a venda do enorme terreno onde funcionou a escola. Situado em área nobre, de localização privilegiada, a propriedade foi alvo da cobiça imobiliária a partir do momento que o governo norte-americano resolveu se desfazer do imóvel.
Segundo o jornalista Petit das Virgens, um dos personagens retratados no livro "Nos bons tempos da Scbeu..." de Juarez Chagas, na época do Governo (Jimmy) Carter, presidente dos EUA entre 1977-81, a política norte-americana entrou em choque com o modus operandi do presidente-general Ernesto Geisel (1974-79). "Estávamos em plena Ditadura Militar e, por conta de questões ligadas aos Direitos Humanos, os Estados Unidos resolveram se desfazer de todas as propriedades no Brasil - o terreno da Scbeu estava no meio dessa história, e o então diretor da escola na época teve a prioridade para comprar ou vender o terreno", lembra Petit.
"Ele (o então diretor) ofereceu a área para um conhecido construtor e político da cidade, que tentou comprar a área direto com a Embaixada Norte-Americana no Recife. Para garantir a prioridade de venda, o então diretor teve que acionar a justiça. Ganhou o processo e no fim das contas vendeu o terreno por um valor bem abaixo do praticado no mercado", disse o jornalista. "O comprador até se comprometeu a construir uma escola em parte da área, como forma de compensar o ótimo negócio, mas ficou só na intenção mesmo. Ex-diretores chegaram, inclusive, a cogitar a abertura de uma auditoria, mas perceberam que as investigações poderiam envolvê-los também.
"Perdemos um importante patrimônio arquitetônico, cultural e educacional em nome da especulação. A Scbeu era um paraíso, verdadeiro filé do ponto de vista imobiliário", garante Petit das Virgens, que chegou a escrever uma matéria na época (dando todos os nomes aos bois) sobre o episódio da venda do terreno, mas lamenta nunca ter sido publicada.
Depoimentos
"Era bom sair pelo portão de trás, descendo a colina através de seu enorme e bem cuidado gramado. Tão grande que, hoje, vários condomínios poluem a paisagem por lá."
Leno, cantor e compositor, aluno do Scbeu entre 1963 e 64.
"Era um dos mais importantes points da cidade na época. Nunca deveria ter se acabado. Este livro será um louvável resgate à sua memória e importante para a história da cidade."
Carlos Eduardo Alves, ex-prefeito, advogado, aluno entre 1973 e 75.
"A minha lembrança mais remota de entrar naquele enorme território, é de quando a meninada da redondeza, com baladeiras e zarabatanas, ia lá para caçar lagartixas e calangos ( ) Lembro também daquela biblioteca que abrigava discos de música norte-americana." Luiz Lima (Lóla), instrumentista e compositor, aluno entre 1962 e 73.
"Foi a melhor escola de língua inglesa que tinha em Natal. Merecia todo o apoio da comunidade." Pery Lamartine, escritor e ex-vice-presidente da Scbeu.
Yuno Silva
repórter
Há um clima de nostalgia no ar. Mais que isso, há todo um sentimento que circula sobre a província para se remontar a memória de uma Natal cosmopolita. Capítulo importante dessa história é a saudosa Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos, que ganha destaque nas páginas do livro "Nos bons tempos da SCBEU - viagem nas memórias dos anos dourados de Natal", do professor Juarez Chagas. O lançamento do título, que sai pela Sebo Vermelho Edições com 600 páginas e cerca de 900 fotografias, será amanhã (sexta, 17) às 18h, no Iate Clube de Natal, embalado pela banda Anos 60.
repórter
Há um clima de nostalgia no ar. Mais que isso, há todo um sentimento que circula sobre a província para se remontar a memória de uma Natal cosmopolita. Capítulo importante dessa história é a saudosa Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos, que ganha destaque nas páginas do livro "Nos bons tempos da SCBEU - viagem nas memórias dos anos dourados de Natal", do professor Juarez Chagas. O lançamento do título, que sai pela Sebo Vermelho Edições com 600 páginas e cerca de 900 fotografias, será amanhã (sexta, 17) às 18h, no Iate Clube de Natal, embalado pela banda Anos 60.
DivulgaçãoA SCBEU tomavatodo o quarteirão entre a Getúlio Vargas e rua Cel. Joaquim Manoel, no bairro Petrópolis
A publicação custará R$ 50 na ocasião, com direito a autógrafo do autor - depois poderá ser encontrado nas principais livrarias da cidade por R$ 70.
"A Scbeu, criada em 1957, tinha status de academia e sua trajetória se confundiu com a história da própria sociedade natalense na época. Foi lá que funcionou o primeiro cinema driving e a primeira biblioteca da cidade, criada por Zila Mamede em 1958. Sem falar dos intelectuais que participaram da fundação da escola, um ano antes de também fundarem a Universidade Federal", relembra Chagas, exaltando a importância da primeira escola de inglês da capital potiguar. "Gente da alta sociedade, artistas, intelectuais... três gerações estudaram na Scbeu", aponta o escritor, responsável pela edição mais volumosa já publicada pela Coleção João Nicodemos de Lima (326 títulos) do Sebo Vermelho.
Vale registrar que Zila viria a criar a biblioteca estadual Câmara Cascudo em 1969 e a Central da UFRN em 1974. A poeta e bibliotecária, ao lado de outras 42 personalidades do quilate do médico Onofre Lopes; do jurista Edgar Barbosa; do ex-governador Tarcísio Maia; do advogado Dalton Melo; Dom Nivaldo Monte; Humberto Nezi; Otto de Brito Guerra; Protásio de Melo, entre outros nomes não menos importantes no contexto histórico e social da cidade, participou da fundação da escola - que funcionou em um casarão com vista para o mar, no alto da Av. Getúlio Vargas, Petrópolis, próximo ao Hospital Universitário Onofre Lopes, em um terreno que ia até a Rua Cel. Joaquim Manoel (onde hoje funciona o edifício Harmony Medical Center). A escola ocupava um quarteirão inteiro.
A Guerra Fria e o rock and roll
Aluno, professor e derradeiro diretor da Scbeu, que funcionou entre 1957 e 1983, Juarez Chagas chegou a iniciar o livro logo após o encerramento das atividades da escola, mas percebeu "que se escrevesse a história completa seria um livro policial", conta Desistiu por um tempo. Mudou o foco, e só retomou o projeto em 2005: "Preferi ressaltar o lado bom dos tempos da Scbeu", pondera. O livro traz um rico acervo de documentos e fotografias que o autor conseguiu evitar que fossem parar no lixo - o autor tem todos os originais e contou com muitos colaboradores.
Chagas faz referências históricas e culturais para contextualizar o período retratado com o que andava rolando pelo resto do mundo, e lembra que as primeiras bandas de garagem conheceram o rock'n roll através do acervo de LPs e compactos da biblioteca. O pioneirismo da Scbeu também se reflete na realização das primeiras matinês e festas americanas da cidade. "O primeiro Halloween só foi promovido em 1963 devido a resistência das pessoas em comemorar um dia dedicado às bruxas", diverte-se.
A partir do livro de Juarez, pode-se entender como Natal continuou sendo 'bombardeada' pela cultura yankee mesmo depois da Segunda Guerra Mundial: "A Scbeu foi a primeira instituição binacional da cidade (Brasil-EUA), era um pedaço da América do Norte aqui e tudo o que acontecia lá fora chegava à cidade através da escola", garante o autor. "Era uma maneira dos Estados Unidos marcarem presença durante a Guerra Fria com os soviéticos", acrescentou.
Entre a turma roqueira presente "Nos bons tempos da Scbeu..." destaque para o cantor e compositor Leno; Reinaldo Azevedo, da banda Anos 60; os irmão Lima (Fon, Eustáquio e Lóla) d'Os Vândalos; e o jornalista Petit das Virgens, visto em retratos empunhando seu violão. O livro de 63 capítulos também traz 200 depoimentos de ex-alunos, professores e diretores da instituição. "Não tenho dúvidas que se trata de um registro histórico importante para se compreender as transformações e o momento atual da cidade", disse Juarez, com um ar de saudade no olhar.
O outro lado da história
A trajetória da Scbeu também guarda um lado obscuro, mal explicado, sobre a venda do enorme terreno onde funcionou a escola. Situado em área nobre, de localização privilegiada, a propriedade foi alvo da cobiça imobiliária a partir do momento que o governo norte-americano resolveu se desfazer do imóvel.
Segundo o jornalista Petit das Virgens, um dos personagens retratados no livro "Nos bons tempos da Scbeu..." de Juarez Chagas, na época do Governo (Jimmy) Carter, presidente dos EUA entre 1977-81, a política norte-americana entrou em choque com o modus operandi do presidente-general Ernesto Geisel (1974-79). "Estávamos em plena Ditadura Militar e, por conta de questões ligadas aos Direitos Humanos, os Estados Unidos resolveram se desfazer de todas as propriedades no Brasil - o terreno da Scbeu estava no meio dessa história, e o então diretor da escola na época teve a prioridade para comprar ou vender o terreno", lembra Petit.
"Ele (o então diretor) ofereceu a área para um conhecido construtor e político da cidade, que tentou comprar a área direto com a Embaixada Norte-Americana no Recife. Para garantir a prioridade de venda, o então diretor teve que acionar a justiça. Ganhou o processo e no fim das contas vendeu o terreno por um valor bem abaixo do praticado no mercado", disse o jornalista. "O comprador até se comprometeu a construir uma escola em parte da área, como forma de compensar o ótimo negócio, mas ficou só na intenção mesmo. Ex-diretores chegaram, inclusive, a cogitar a abertura de uma auditoria, mas perceberam que as investigações poderiam envolvê-los também.
"Perdemos um importante patrimônio arquitetônico, cultural e educacional em nome da especulação. A Scbeu era um paraíso, verdadeiro filé do ponto de vista imobiliário", garante Petit das Virgens, que chegou a escrever uma matéria na época (dando todos os nomes aos bois) sobre o episódio da venda do terreno, mas lamenta nunca ter sido publicada.
Depoimentos
"Era bom sair pelo portão de trás, descendo a colina através de seu enorme e bem cuidado gramado. Tão grande que, hoje, vários condomínios poluem a paisagem por lá."
Leno, cantor e compositor, aluno do Scbeu entre 1963 e 64.
"Era um dos mais importantes points da cidade na época. Nunca deveria ter se acabado. Este livro será um louvável resgate à sua memória e importante para a história da cidade."
Carlos Eduardo Alves, ex-prefeito, advogado, aluno entre 1973 e 75.
"A minha lembrança mais remota de entrar naquele enorme território, é de quando a meninada da redondeza, com baladeiras e zarabatanas, ia lá para caçar lagartixas e calangos ( ) Lembro também daquela biblioteca que abrigava discos de música norte-americana." Luiz Lima (Lóla), instrumentista e compositor, aluno entre 1962 e 73.
"Foi a melhor escola de língua inglesa que tinha em Natal. Merecia todo o apoio da comunidade." Pery Lamartine, escritor e ex-vice-presidente da Scbeu.
Fonte TNonline
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