sexta-feira, 20 de maio de 2011

Linha dura apenas em campo

Ele tem fama de durão, confessa que pouquíssimas coisas são capazes de emocioná-lo, mas é um treinador vencedor e que através do casamento com o ABC se transformou num profissional em alta no cenário nacional. A imprensa do sudeste costumam o comparar com Felipão, mas Leandro Campos não sabe de onde vem essa ligação a não ser que seja pelo fato de ambos cultivarem um bigode de longas datas. Tudo aquilo que deixou de conquistar dentro da quatro linhas, numa carreira meteórica como atacante, o profissional vem acumulando nessa trajetória de 23 anos como técnico de futebol.
Rodrigo SenaObrigado a abrir mão do convívio familiar para desempenhar a função de técnico, o comandante do ABC considera o sacrifício necessário e reconhece a perda do pai como um golpe duro que recebeu
Obrigado a abrir mão do convívio familiar para desempenhar a função de técnico, o comandante do ABC considera o sacrifício necessário e reconhece a perda do pai como um golpe duro que recebeu

Depois de toda formação como  jogador no Joinville, onde foi profissionalizado, aos 19 anos, foi para Anápolis disputar o campeonato goiano, lá foi obrigado a encarar a dura realidade do esporte, pois jogou três meses e não recebeu salário. Os “calotes” na carreira foram inúmeros, mas nenhum deles o fez desistir de vencer no futebol. 
A insistência para se tornar jogador de futebol não durou mais de três anos e a transição entre a velha e a nova carreira iniciou em 1987 quando conseguiu passar o vestibular de Educação Física. No segundo ano de curso foi convidado para trabalhar na preparação física das categorias de base do Joinville — clube que mantém uma espécie de ligação umbilical, naquele que foi o último degrau até abraçar a carreira na qual ainda pretende se consagrar.
Hélio dos Anjos é apontado pelo atual comandante abecedista como o grande mentor da sua carreira como técnico. “Quando Hélio assumiu o comando do Joinville em 1988, eu assumi a equipe júnior e fui logo campeão da categoria.  Ele foi quem me orientou, me influenciou e quem pediu a diretoria do clube que eu fosse efetivado”, afirmou Campos.
Seis anos depois, quando chegou a desempenhar o papel de auxiliar-técnico de Hélio no Avaí, foi convidado para assumir a equipe principal do Joinville e dai deu início a uma verdadeira peregrinação, com passagens inclusive pelos Emirados Árabes, onde teve a oportunidade de trabalhar nas divisões de bases e pelos profissionais do Al Wahda, depois ainda teve passagem pela Al-Hilal da Arábia Saudita.
Nos Emirados, onde viveu por quatro anos, vem o maior arrependimento da carreira. “Hoje me arrependo de não ter aceitado voltar a trabalhar nas categorias de base do Al Wahda, uma vez que eles dão muita importância ao trabalho de formação de atletas, onde poderia conquistar de forma definitiva minha independência financeira. Mas agora não posso reclamar de nada”, salientou.
Desde então a sua peregrinação como treinador foi tão grande, que fica difícil até de citar a trajetória. Mas resumindo, Leandro Campos acha que só para trabalhar já viajou o suficiente para dar umas duas voltas e meia pelo mundo. “Se tivesse essa promoção de cartão de milhagem das empresas aéreas antes, certamente iria acumular quilometragem para viajar o resto da vida sem comprar passagens”, brinca.
Ausência
O apego a profissão e o profissionalismo obrigou o treinador a tomar rumos diferentes daquele que planejava. Ele confessa que perdeu etapas importantes da vida familiar: não teve a oportunidade de acompanhar o nascimento dos filhos e do neto. Porém, credita como o golpe mais duro a morte do pai. “Sai de Joinville meu pai estava bem e só voltei a vê-lo novamente dentro de um caixão. Foi muito duro aceitar isso”, disse.
Como foi obrigada a desapegar da família cedo e viveu sempre só, hoje Leandro Campos não se considera um homem emotivo. As comemorações costumam ser contidas e, dentro de campo, se resumem a uma pequena farra com os atletas.
Perguntado porque não é visto em campo nas recentes conquistas pelo ABC, ele diz que aquele momento a festa deve ser dos atletas, que realmente são aqueles que correm e dão seu suor pelo clube. “Geralmente vou para o vestiário onde recebo ligações da família e de alguns amigos. Tento relaxar e pronto. Amanhã já estou preparado para reiniciar o meu trabalho”, afirma.
Rígido, comandante não permite “estrelismo” no ABC
O pedido de demissão do ABC logo após a derrota para o Santa Cruz é passado e não passa mais pela cabeça do treinador Leandro Campos. Ele afirma que a decisão foi motivada pelo problemas familiares que vinha enfrentando e tinha de resolver naquele momento, porém ideia não passa mais pela sua cabeça. Muito embora reconheça: a única coisa que pode me tirar do ABC são os maus resultados. Satisfeito no clube, o treinador não se vê fora do alvinegro por outro motivo, por considerar que a felicidade não passa apenas por uma carteira cheia de dinheiro.
“Aquele momento que pedi para sair era realmente necessário. A semana que passei em casa deu para resolver tanta coisa que jamais resolveria se estivesse longe. Tanto recusei as propostas que havia recebido e logo depois aceitei voltar para o ABC, onde estou muito feliz e me sinto bem recompensado com aquilo que a diretoria vem realizando e o clima de amizade dentro do clube”, ressaltou.
Planos para se projetar cada vez mais no futebol continuam a povoar a mente de Leandro Campos, mas ele sabe que o mercado de treinadores no Brasil o jogo é pesado, com pessoas que vivem querendo puxar o tapete das outras. Neste caso, Campos disse que prefere tentar subir pela qualidade e competência do trabalho desenvolvido em campo.
A única coisa capaz de quebrar a tranquilidade habitual apresentada pelo profissional é o fato de algum atleta do atual elenco abecedista deixar o sucesso subir à cabeça, começar a querer desprezar os companheiros e fazer corpo mole. “Se acontecer isso sou capaz de entrar com os dois pés no peito dele. Trato da mesma forma o funcionário mais humilde do clube até o presidente e não admito estrelismo dentro do grupo. Jogador que não estiver rendendo bem vai sair de campo e ser barrado, independente do nome”, disse.

Fonte: tnonline

Nenhum comentário:

Postar um comentário