Augusto Chagas: “Sensação de dever cumprido”
Na manhã deste sábado (16) teve início a plenária final do 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Durante os dois dias de plenária os delegados irão aprovar as resoluções e os direcionamentos políticos que a entidade deverá seguir nos próximos dois anos. Na ocasião, será eleita também a próxima direção da UNE, neste domingo (17). Com o Ginásio Goiânia Arena lotado, todas as forças políticas estão apresentando suas teses aos delegados eleitos.
Augusto Chagas, Presidente da UNE: "Penso que a relação com o governo da Dilma precisa manter essa mesma trajetória" - Foto: Olívia Proença
Durante a plenária final o atual presidente da entidade, Augusto Chagas, concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Vermelho, fazendo um balanço da gestão 2009/2011 e apontando os novos desafios que serão enfrentados no próximo biênio.
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Portal Vermelho: Depois de dois anos de gestão, qual é o saldo final das ações e atividades que a UNE encabeçou?
Augusto Chagas: O que nós temos é a sensação de dever cumprido. Eu e toda essa diretoria da UNE podemos nos orgulhar de termos cumprido os objetivos principais que foram estabelecidos no último congresso. Foi uma gestão que soube participar dos grandes debates que aconteceram nos últimos dois anos, começando pelo mais importante, que foi a eleição presidencial de 2010. A UNE soube se posicionar de maneira firme no primeiro turno, reforçando a sua independência e optando por não apoiar nenhuma das candidaturas. No segundo turno também tivemos a coragem de nos posicionar em um momento de polarização, apoiando a candidatura de Dilma Roussef.
Acredito que houve algumas marcas importantes nessa gestão: a primeira foi a luta do 50% do pré-sal para a educação. A UNE conseguiu transformar essa bandeira em uma luta não só dos estudantes, mas também de muitas entidades do movimento educacional e social. Recentemente nós lançamos também essa batalha pela destinação de 10% do PIB para a educação. Além disso, tivemos forte envolvimento na Conferência Nacional de Educação e conseguimos apresentar 61 emendas ao PNE.
Foi uma gestão também que soube realizar grandes fóruns da UNE, bastante mobilizados, em que a nossa rede demonstra toda a nossa vitalidade. Nesses fóruns a nós tivemos a oportunidade de dialogar com muitos setores da sociedade. Conversamos com intelectuais, professores, lideranças do movimento social, do mundo político, entre outros. A UNE foi muito prestigiada nesses dois anos nos fóruns que ela realizou, sempre conseguindo trazer figuras muito importantes da sociedade. Nossa gestão realizou também uma das maiores bienais da história da UNE que aconteceu no Rio de Janeiro e contou com a presença de 10 mil estudantes.
Outra marca importante para essa gestão foi a realização do congresso mais representativo da história da UNE. 97% das instituições de ensino participaram do processo de eleição dos quase 6 mil delegados que representam mais de 6 milhões de universitários. Votaram mais de 1,5 milhão de universitários. Essa marca é muito expressiva e demonstra toda a vitalidade que a UNE vive hoje.
Nós conseguimos fazer todas essas atividades com uma marca que diferencia os estudantes dos outros setores do movimento social, que é a capacidade de mobilizar a juventude, fazendo passeatas e manifestações em torno das nossas bandeiras de luta. Ao lado da UBES, já nos primeiros 40 dias de gestão nós fizemos uma passeata em Brasília cobrando os 50% do pré-sal para a educação. Fizemos também uma grande passeata aqui em Goiânia durante o congresso pelos 10% do PIB para a educação. É uma gestão que começou e terminou nas ruas, fazendo grandes mobilizações.
Vermelho: A UNE jogou um papel muito importante nas eleições presidenciais de 2010. Como foi o relacionamento da entidade com o governo Lula e qual é a relação hoje com a presidenta Dilma Roussef?
Augusto Chagas: O que a UNE soube casar durante os anos do governo Lula foi uma característica de se aproveitar dos espaços de diálogo. Lula optou por construir o seu governo dialogando com a sociedade e com o Movimento Estudantil. Mas o diálogo é importante desde que ele não comprometa a sua marca que é de fazer pressão. Não é com favores que os estudantes conquistam as sua vitórias. Foram anos de muitas conquistas, a educação brasileira melhorou bastante. A UNE foi contemplada em muitas pautas que ela reivindicava há muito tempo, como o crédito educativo, o ProUni, a duplicação de vagas na universidade pública entre tantas outras. Foram muitas conquistas que a UNE teve em virtude dessa postura de diálogo e pressão ao mesmo tempo
Penso que a relação com o governo da Dilma precisa manter essa mesma trajetória. A Dilma, que foi eleita com uma plataforma de esquerda, avançada, de compromisso com os trabalhadores, precisa agora cumprir o que prometeu. Devemos aproveitar também os espaços de diálogo que a presidenta já sinalizou que quer estabelecer. Recentemente fizemos uma passeata em Brasília e a presidenta recebeu uma comissão da UNE e da UBES no palácio para ouvir as reivindicações dos estudantes, mostrando que ela quer manter o canal aberto.
Vermelho: Recentemente um setor da imprensa no Brasil publicou matérias atacando a UNE e a classificando como “Chapa Branca”. Qual a relação que a entidade teve com a mídia nos últimos dois anos?
Augusto Chagas: A cada dia fica mais claro que alguns grandes veículos da mídia brasileira se organizam como um partido político, que tem a suas opiniões próprias e que não tem nenhum compromisso com o jornalismo, com a informação e com o interesse público. Esses grandes veículos atuam como uma corrente política e que, de maneira inescrupulosa, bancam suas manchetes e constroem opiniões através do que deveria ser notícia. Ao longo de muitos anos a grande imprensa atacou muito a nossa entidade, pois não se conformam que a UNE mais uma vez acertou. Eles desejavam que nós não tivessemos entendido o momento pelo qual atravessa o país. A UNE optou por brigar por essas mudanças que estão acontecendo e não por lutar contra elas. É por isso que a mídia não se conforma e é por isso que nos ataca.
Nesse último período, a única coisa que eles conseguem insistir é nessa conversa fiada de que a UNE é chapa branca e que troca suas ideias pelo fato de receber patrocínios para realizar as suas atividades. Isso é uma coisa absurda. A UNE sempre contou com o apoio de governos de instituições. O congresso de reconstrução em 1979 foi todo pago por Antônio Carlos Magalhães, e acredito que ninguém tem dúvidas de que a UNE tenha, por um milímetro, flexibilizado sua opinião sobre o ACM. A organização dos estudantes é absolutamente de interesse público.
Para a imprensa que tem repetido isso nós temos perguntado e afirmado que, no ano passado, só em verbas publicitárias e federais, que é o mesmo tipo de apoio que a UNE recebe, a grande imprensa recebeu quase 1 bilhão de reais somente de entidades federais. Portanto eles deveriam se envergonhar de ficar repetindo essa ladainha. Essa é a única coisa que ainda sobra para eles repetirem e tentarem descaracterizar a nossa entidade para uma parte da população.
Nós respondemos a eles no dia a dia com a nossa luta, com os números desse congresso e com a nossa rede do movimento estudantil, que é tradicional e forte.
Vermelho: Recentemente a UNE ocupou o terreno que foi tomado pela Ditadura Militar e conseguiu sua posse definitiva. Como estão os preparativos para a construção da nova sede?
Augusto Chagas: Essa foi uma marca muito importante e todos nós estamos muito orgulhosos. Essa gestão teve muito compromisso com esse desafio que nós enfrentamos e demos muitos passos significativos para a construção da nova sede. Nós conseguimos aprovar o projeto de lei que responsabilizou o Estado brasileiro pelo incêndio e pela demolição da sede por unanimidade. A UNE soube, tecnicamente e politicamente, construir a argumentação necessária para que o projeto fosse aprovado. Essa luta foi muito diferente para nós, porque a UNE tem a vocação de fazer as suas lutas, mobilizar os estudantes, pautar os debates. Construir um prédio foi algo totalmente novo para essa gestão e nós lutamos muito para conseguir aprovar a indenização e o projeto.
Hoje a nova Sede está toda tecnicamente definida, desenhada pelo grande brasileiro que é o arquiteto Oscar Neymeier, o que nos honra muito. A nova sede vai trazer de volta o cunho cultural para aquela região do Rio de Janeiro, o que era uma vocação também do antigo prédio, além de possuir caráter nacionalista e democrático. Alguns contratos para o início da obra já foram assinados e o nosso desafio agora é inaugurar, na próxima gestão, o nosso novo prédio.
De Goiânia,
Artur Dias
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Portal Vermelho: Depois de dois anos de gestão, qual é o saldo final das ações e atividades que a UNE encabeçou?
Augusto Chagas: O que nós temos é a sensação de dever cumprido. Eu e toda essa diretoria da UNE podemos nos orgulhar de termos cumprido os objetivos principais que foram estabelecidos no último congresso. Foi uma gestão que soube participar dos grandes debates que aconteceram nos últimos dois anos, começando pelo mais importante, que foi a eleição presidencial de 2010. A UNE soube se posicionar de maneira firme no primeiro turno, reforçando a sua independência e optando por não apoiar nenhuma das candidaturas. No segundo turno também tivemos a coragem de nos posicionar em um momento de polarização, apoiando a candidatura de Dilma Roussef.
Acredito que houve algumas marcas importantes nessa gestão: a primeira foi a luta do 50% do pré-sal para a educação. A UNE conseguiu transformar essa bandeira em uma luta não só dos estudantes, mas também de muitas entidades do movimento educacional e social. Recentemente nós lançamos também essa batalha pela destinação de 10% do PIB para a educação. Além disso, tivemos forte envolvimento na Conferência Nacional de Educação e conseguimos apresentar 61 emendas ao PNE.
Foi uma gestão também que soube realizar grandes fóruns da UNE, bastante mobilizados, em que a nossa rede demonstra toda a nossa vitalidade. Nesses fóruns a nós tivemos a oportunidade de dialogar com muitos setores da sociedade. Conversamos com intelectuais, professores, lideranças do movimento social, do mundo político, entre outros. A UNE foi muito prestigiada nesses dois anos nos fóruns que ela realizou, sempre conseguindo trazer figuras muito importantes da sociedade. Nossa gestão realizou também uma das maiores bienais da história da UNE que aconteceu no Rio de Janeiro e contou com a presença de 10 mil estudantes.
Outra marca importante para essa gestão foi a realização do congresso mais representativo da história da UNE. 97% das instituições de ensino participaram do processo de eleição dos quase 6 mil delegados que representam mais de 6 milhões de universitários. Votaram mais de 1,5 milhão de universitários. Essa marca é muito expressiva e demonstra toda a vitalidade que a UNE vive hoje.
Nós conseguimos fazer todas essas atividades com uma marca que diferencia os estudantes dos outros setores do movimento social, que é a capacidade de mobilizar a juventude, fazendo passeatas e manifestações em torno das nossas bandeiras de luta. Ao lado da UBES, já nos primeiros 40 dias de gestão nós fizemos uma passeata em Brasília cobrando os 50% do pré-sal para a educação. Fizemos também uma grande passeata aqui em Goiânia durante o congresso pelos 10% do PIB para a educação. É uma gestão que começou e terminou nas ruas, fazendo grandes mobilizações.
Vermelho: A UNE jogou um papel muito importante nas eleições presidenciais de 2010. Como foi o relacionamento da entidade com o governo Lula e qual é a relação hoje com a presidenta Dilma Roussef?
Augusto Chagas: O que a UNE soube casar durante os anos do governo Lula foi uma característica de se aproveitar dos espaços de diálogo. Lula optou por construir o seu governo dialogando com a sociedade e com o Movimento Estudantil. Mas o diálogo é importante desde que ele não comprometa a sua marca que é de fazer pressão. Não é com favores que os estudantes conquistam as sua vitórias. Foram anos de muitas conquistas, a educação brasileira melhorou bastante. A UNE foi contemplada em muitas pautas que ela reivindicava há muito tempo, como o crédito educativo, o ProUni, a duplicação de vagas na universidade pública entre tantas outras. Foram muitas conquistas que a UNE teve em virtude dessa postura de diálogo e pressão ao mesmo tempo
Penso que a relação com o governo da Dilma precisa manter essa mesma trajetória. A Dilma, que foi eleita com uma plataforma de esquerda, avançada, de compromisso com os trabalhadores, precisa agora cumprir o que prometeu. Devemos aproveitar também os espaços de diálogo que a presidenta já sinalizou que quer estabelecer. Recentemente fizemos uma passeata em Brasília e a presidenta recebeu uma comissão da UNE e da UBES no palácio para ouvir as reivindicações dos estudantes, mostrando que ela quer manter o canal aberto.
Vermelho: Recentemente um setor da imprensa no Brasil publicou matérias atacando a UNE e a classificando como “Chapa Branca”. Qual a relação que a entidade teve com a mídia nos últimos dois anos?
Augusto Chagas: A cada dia fica mais claro que alguns grandes veículos da mídia brasileira se organizam como um partido político, que tem a suas opiniões próprias e que não tem nenhum compromisso com o jornalismo, com a informação e com o interesse público. Esses grandes veículos atuam como uma corrente política e que, de maneira inescrupulosa, bancam suas manchetes e constroem opiniões através do que deveria ser notícia. Ao longo de muitos anos a grande imprensa atacou muito a nossa entidade, pois não se conformam que a UNE mais uma vez acertou. Eles desejavam que nós não tivessemos entendido o momento pelo qual atravessa o país. A UNE optou por brigar por essas mudanças que estão acontecendo e não por lutar contra elas. É por isso que a mídia não se conforma e é por isso que nos ataca.
Nesse último período, a única coisa que eles conseguem insistir é nessa conversa fiada de que a UNE é chapa branca e que troca suas ideias pelo fato de receber patrocínios para realizar as suas atividades. Isso é uma coisa absurda. A UNE sempre contou com o apoio de governos de instituições. O congresso de reconstrução em 1979 foi todo pago por Antônio Carlos Magalhães, e acredito que ninguém tem dúvidas de que a UNE tenha, por um milímetro, flexibilizado sua opinião sobre o ACM. A organização dos estudantes é absolutamente de interesse público.
Para a imprensa que tem repetido isso nós temos perguntado e afirmado que, no ano passado, só em verbas publicitárias e federais, que é o mesmo tipo de apoio que a UNE recebe, a grande imprensa recebeu quase 1 bilhão de reais somente de entidades federais. Portanto eles deveriam se envergonhar de ficar repetindo essa ladainha. Essa é a única coisa que ainda sobra para eles repetirem e tentarem descaracterizar a nossa entidade para uma parte da população.
Nós respondemos a eles no dia a dia com a nossa luta, com os números desse congresso e com a nossa rede do movimento estudantil, que é tradicional e forte.
Vermelho: Recentemente a UNE ocupou o terreno que foi tomado pela Ditadura Militar e conseguiu sua posse definitiva. Como estão os preparativos para a construção da nova sede?
Augusto Chagas: Essa foi uma marca muito importante e todos nós estamos muito orgulhosos. Essa gestão teve muito compromisso com esse desafio que nós enfrentamos e demos muitos passos significativos para a construção da nova sede. Nós conseguimos aprovar o projeto de lei que responsabilizou o Estado brasileiro pelo incêndio e pela demolição da sede por unanimidade. A UNE soube, tecnicamente e politicamente, construir a argumentação necessária para que o projeto fosse aprovado. Essa luta foi muito diferente para nós, porque a UNE tem a vocação de fazer as suas lutas, mobilizar os estudantes, pautar os debates. Construir um prédio foi algo totalmente novo para essa gestão e nós lutamos muito para conseguir aprovar a indenização e o projeto.
Hoje a nova Sede está toda tecnicamente definida, desenhada pelo grande brasileiro que é o arquiteto Oscar Neymeier, o que nos honra muito. A nova sede vai trazer de volta o cunho cultural para aquela região do Rio de Janeiro, o que era uma vocação também do antigo prédio, além de possuir caráter nacionalista e democrático. Alguns contratos para o início da obra já foram assinados e o nosso desafio agora é inaugurar, na próxima gestão, o nosso novo prédio.
De Goiânia,
Artur Dias
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