sábado, 6 de agosto de 2011

Dilma procura acalmar os militares

Brasília (AE) - Na tentativa de acalmar os militares, que reagiram mal à escolha do ex-chanceler Celso Amorim para o Ministério da Defesa, a presidenta Dilma Rousseff reuniu ontem os comandantes das três Forças Armadas, no Palácio da Alvorada, e disse não haver motivo para preocupações. Dilma pediu aos militares que mantenham a "normalidade institucional", abriu um canal mais direto de relacionamento com eles e disse que seu governo não permitirá revanchismos.
beto barata/aeNelson Jobim sai para uma caminhada, mas evita revelar detalhes sobre a conversa que teve com a presidenta Dilma RousseffNelson Jobim sai para uma caminhada, mas evita revelar detalhes sobre a conversa que teve com a presidenta Dilma Rousseff

O encontro durou uma hora e ocorreu no dia seguinte ao da demissão de Nelson Jobim, que chefiava o Ministério da Defesa desde 2007, no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidenta fez questão de reunir a o alto comando da tropa, pouco antes de viajar para a Bahia, com o objetivo de desfazer o mal-estar.

Em mensagem teleguiada para acalmar a caserna, Dilma afirmou que ninguém precisa temer mudanças. Embora não tenha tocado no assunto com todas as letras, todos entenderam na conversa que não haverá revisão da Lei de Anistia, que impede a abertura de processo e punição de agentes de Estado que atuaram na ditadura e praticaram crimes contra os opositores do governo como tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados.

Amorim tomará posse na segunda-feira e hoje vai se reunir com os comandantes militares, em Brasília. Da mesma forma que Dilma, disse aos mais próximos que fará um trabalho de "distensão". Não haverá solenidade de transmissão de cargo.

A saída de Jobim foi oficializada na quinta-feira à noite, e Dilma procurou deixar claro, na conversa de ontem com os militares, que, assim como eles, a Presidência também não pode admitir insubordinação.

Jobim caiu depois de ter dado uma entrevista à revista Piauí, na qual faz críticas aos auxiliares mais próximos de Dilma e ao próprio governo.

À revista, o então ministro definiu a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, como "fraquinha" e disse que a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, "nem sequer conhece Brasília".

Na sexta-feira, durante viagem a Tabatinga (AM), na fronteira com a Colômbia, Jobim disse que suas declarações haviam sido tiradas do contexto. Dilma mandou o então ministro retornar e, à noite, ele entregou a carta de demissão.

Telefonema 

Depois de conversar por telefone com Lula - que na quinta-feira estava em Bogotá -, a presidenta decidiu convocar os militares para uma reunião. Queria tranquilizá-los sobre a nomeação do diplomata Amorim, considerado por eles como "esquerdista".

Participaram do encontro com Dilma ontem no Alvorada os comandantes do Exército, Enzo Peri; da Marinha, Moura Neto; e da Aeronáutica, Juniti Saito, além do chefe do Estado Maior Conjunto, general José Carlos De Nardi.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), José Elito Carvalho Siqueira, não foi chamado para a reunião. Ao tomar posse, em janeiro, Elito disse que a existência de desaparecidos políticos durante a ditadura militar (1964-1985) não deve ser motivo de vergonha nem tampouco de vanglória, mas, sim, tratado como "fato histórico". Ex-militante de organizações de extrema-esquerda, Dilma não gostou das declarações e o enquadrou, à época.

A presidenta disse a auxiliares que saiu "aliviada" do encontro com os militares. Eles gostavam de Jobim, mas, na conversa com Dilma, disseram entender que ele "passou dos limites".

Nelson Jobim sai à rua mas evita falar sobre demissão

Brasília (AE) - Fora do governo, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim disse ontem que "não é mais nada" e dedicou o primeiro dia longe do ministério a uma peregrinação em que retomou contatos com cardeais do PMDB. Quadro histórico do partido, mas sem grande conexões com o atual comando da máquina peemedebista, Jobim visitou o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado José Sarney (AP).

Pela manhã, ele saiu bem cedo de casa para uma caminhada e evitou falar com a imprensa sobre a conversa que teve na quinta-feira à noite com a presidenta Dilma Rousseff - cinco breves minutos nos quais entregou a carta de demissão e se despediu.

"Não tenho nada para comentar", limitou-se a afirmar, a cada pergunta feita por jornalistas que o seguiam. "Não sou mais nada, qualquer coisa pergunte para a presidente Dilma."

Nelson Jobim foi demitido ontem à noite, pela presidenta Dilma Rousseff, que se irritou com suas críticas - em entrevista à revista Piauí - às ministras de Relações Institucionais, Ideli Salvatti ("é muito fraquinha"), e da Casa Civil, Gleisi Hofmann ("sequer conhece Brasília").

No meio da tarde, acompanhado do ex-deputado José Genoino, ainda assessor da Defesa, Jobim esteve na casa do advogado Eduardo Ferrão, de cujo escritório o ex-ministro já fora sócio, para um almoço.

O Diário Oficial da União publicou ontem a exoneração de Jobim "a pedido" e a nomeação, para seu lugar, do ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim.

Amorim promete respeitar  interesse estratégico do país

João Pessoa (AE) - O futuro ministro da Defesa, Celso Amorim, fez elogios ontem ao antecessor, Nelson Jobim, e reconheceu que a Defesa tem uma estratégia definida e prometeu respeitar interesses estratégicos da Nação. Ele admitiu a satisfação com o convite feito pela presidenta Dilma Rousseff para integrar o primeiro escalão. Amorim terá hoje, em Brasília, o primeiro encontro com os comandantes das três Forças, que não digeriram a indicação do novo titular da Defesa

"Evidentemente eu tenho muito apreço pelo trabalho feito pelos meus antecessores, inclusive o ministro Nelson Jobim. Eu acho que a Defesa tem um projeto importante, há uma estratégia nacional de defesa, que foi definida. Eu durante a minha vida inteira fui um servidor do Estado brasileiro e é o que pretendo continuar ser, sempre abrindo essa condição de servidor do Estado para um diálogo com a sociedade, mas sem perder de vista também os interesses maiores, estratégicos da Nação", afirmou o novo ministro, que participava ontem de um evento na Universidade Estadual da Paraíba.

O ex-ministro de Relações Exteriores de Lula tentou demonstrar engajamento com o atual governo. Agradeceu a confiança de Dilma - "a quem eu no governo pretendo servir e trabalhar com o mesmo afinco e empenho com que trabalhei em outras funções". Amorim fez apenas um rápido pronunciamento, e cancelou uma entrevista coletiva que havia marcado. Ele deve se encontrar hoje com a presidenta.

Reação 

Ontem, em Bogotá, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não cabe aos militares gostar ou não da indicação do ex-chanceler Celso Amorim para ocupar o Ministério da Defesa, no lugar de Nelson Jobim. Lula fez essa declaração ao ser questionado se Amorim conseguirá desempenhar um bom trabalho à frente da pasta, uma vez que militares já manifestaram insatisfação com a escolha. "Não cabe aos militares gostar ou não gostar de uma indicação da presidenta da República. Temos que aprender a trabalhar para depois ver se vai dar certo ou não", afirmou, em Bogotá. Lula afirmou que é sempre um sofrimento a tomada de decisão para demitir um colaborador. E lembrou, contudo, que em período eleitoral, alguns ministros deixam o governo.

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