Ex-senadora Marina Silva deixa o PV
Marina Silva deixa o PV, segundo ela, por falta de democracia interna do partido |
A ex-senadora e candidata à Presidência Marina Silva anunciou sua saída do PV nesta quinta-feira (7). A desfiliação dela tem como origem o que classificou como "falta de democracia interna" do partido. Marina pretendia colocar o grupo que lhe apoia nos principais cargos. No entanto, acabou esbarrando na atual estrutura do PV. "A experiência no PV serviu para sentir até que ponto o sistema político brasileiro está empedernido e sem capacidade de abrir-se para sua própria renovação", discursou.
O ato de desfiliação de Marina ocorreu em um salão na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, mesmo lugar onde ela anunciou sua candidatura à Presidência da República e fez as primeiras reuniões de campanha. Cerca de 200 pessoas compareceram ao evento. "É essa a causa que nos move e nos faz reconhecer, em primeiro lugar, que o propósito de levá-la adiante por meio do PV, na forma como ele hoje se estrutura, não foi possível", afirmou, fazendo referência ao que chamou de "Política com P maiúsculo.
"Na campanha de 2010 dissemos que deveríamos 'ir além dos limites impostos pela falta de grandeza dos interesses e costumes de alguns políticos que se acomodaram à lógica do poder pelo poder, que se tornaram incapazes de assumir plenamente os desafios do presente'. (...) Não é hora de ser pragmático, é hora de ser sonhático e de agir pelos nossos sonhos." Participaram do evento, além de Marina, o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), o ex-presidente do partido em São Paulo Maurício Brusadin, o empresário Guilherme Leal, que foi vice de Marina na corrida presidencial, e o ex-candidato ao Senado Ricardo Young (SP).
Em resposta ao discurso de Marina, o PV lançou uma nota oficial. Assinado pela Executiva Nacional do partido, o texto diz lamentar a "falsa polêmica artificialmente inflada" sobre a falta de democracia interna da legenda. "Enfatizamos, contudo, que, independentemente de qualquer pessoa, o partido opta por continuar pautado por seus princípios e ideais", disse a nota.
Leia a íntegra do discurso de Marina Silva:
“Chegou a hora de acreditar que vale a pena, juntos, criarmos um grande movimento para que o Brasil vá além e coloque em prática tudo aquilo que a sociedade aprendeu nas últimas décadas”. Assim começava o convite para a grande aliança que, em 2010, propusemos à sociedade brasileira. E continuava dizendo que chegou a hora dos que querem viver num país melhor, reinventar o seu futuro no século 21. Que podemos alcançar a democracia que queremos. Que a distância entre o que somos e o que podemos ser não é tão longa se nos dispusermos a começar a caminhada.
Estamos aqui hoje para reafirmar que esta continua sendo a nossa palavra, que vale o que está escrito. Está nesta palavra dada a principal razão pela qual eu mesma e tantos companheiros estamos nos afastando do Partido Verde. Para manter nossa coerência e seguir em frente, em união com aqueles que, embora não se desligando do partido por diversas razões, permanecerão críticos e em consonância com o mesmo pensamento.
A experiência no PV serviu para sentir até que ponto o sistema político brasileiro está empedernido e sem capacidade de abrir-se para sua própria renovação. Se antes dissemos “chegou a hora de acreditar”, afirmo hoje: chegou a hora de ser e fazer, de nos movimentarmos em conexão com as redes e pessoas que expressam a chegada do futuro e o constroem na prática, no dia-a-dia.
A proposta de desenvolvimento sustentável é inseparável de uma política sustentável. Não podemos falar das conquistas de nosso país separando–as da baixa credibilidade do sistema político, dos desvios éticos tornados corriqueiros, da perplexidade da população diante da transformação dos partidos em máquinas obcecadas pelo poder em si e cada vez mais distantes do mandato de serviço que estão obrigados a prestar à população. A ideia de desenvolvimento não pode estar desvinculada da existência de um sistema político democrático consolidado, tanto na sua face representativa quanto na sua imprescindível dimensão participativa direta.
O resultado mais grave da perversão do sistema político é o afastamento das pessoas da Política com P maiúsculo, pela qual cada um pode ser parte das decisões públicas por meio de suas opiniões, sua palavra, suas propostas, seu voto bem informado e consciente. Quando a representação gerada por esse voto não expressa integralmente o compromisso de se dedicar ao bem comum, a democracia sai trincada, e essa ameaça afeta a todos nós e nosso direito a viver melhor, com mais justiça, mais qualidade de vida, com horizontes mais prazeirosos. Então, é preciso reagir e chamar mais e mais pessoas para um grande debate nacional sobre o nosso futuro.
É essa a causa que nos move e nos faz reconhecer, em primeiro lugar, que o propósito de levá-la adiante por meio do PV, na forma como ele hoje se estrutura, não foi possível. E, em segundo lugar, que não podemos relativizá-la para compor com uma cultura política que combatemos e que se mostra impermeável ao novo e ao sentido profundo da democracia.
Manter a coerência e seguir em frente, é o sentido de nosso gesto, repito. Não se trata de uma saída pragmática, com olhos postos em calendários eleitorais. Ao contrário, é a negação do pragmatismo a qualquer preço.
É uma reafirmação de compromissos e princípios. É uma caminhada verdadeira e esperançosa em direção ao nosso foco principal: sensibilizar as brasileiras e os brasileiros que se dispõem a sair do papel de meros espectadores a que vêm sendo condenados pelo atual sistema político para ser uma força transformadora. Força capaz de fazer sua vontade junto a um sistema político superado na sua essência, mas ainda no comando das instituições, tornando-as reféns de privilégios, de interesses setoriais, de alianças e posturas atrasadas, incompatíveis com os desafios que temos para este século.
Hoje, as pessoas se mobilizam por causas muito diferenciadas, se manifestam pela internet, mas tem dificuldades de se integrar, de amalgamar suas diferentes preocupações num grande projeto de país, impulsionado pelo desejo de um salto civilizatório que só acontecerá se interrompermos a trajetória de degradação social e ambiental que é, infelizmente, uma das principais marcas de nossos tempos.
Junto-me a todos que se identificam com esse pensamento, para fazer chegar o momento da integração. De inventar outra cultura política para nosso futuro. Vamos discutir democracia, educação, desenvolvimento, sem as amarras das ambições de poder como um fim em si mesmo, que diminuem e pervertem os sonhos e as intenções.
Não se trata de negar as instituições de Estado e o sistema representativo. Sabemos de sua importância e de seu papel, mas não podemos fechar os olhos para seus desvios. Devemos exigir que saiam de suas velhas práticas e acordem para o presente. Para isso, a sociedade brasileira precisa recuperar a sua iniciativa no campo político, construir coletivamente sua vontade e fazê-la valer.
Nosso debate, hoje, não pode ser o das eleições de 2014. As eleições de 2010 tiveram o papel de fazer a luta socioambiental abrir suas janelas e portas para a sociedade. Fizeram com que milhões de pessoas escolhessem uma proposta diferente. Agora é hora de ir mais fundo. A hora da verdade. Para nós e para a sociedade. Vamos nos reencantar com o nosso potencial para mudar o que precisa ser mudado e preservar o que precisa ser preservado.
Na campanha de 2010 dissemos que deveríamos “ir além dos limites impostos pela falta de grandeza dos interesses e costumes de alguns políticos que se acomodaram à lógica do poder pelo poder, que se tornaram incapazes de assumir plenamente os desafios do presente”. Essa também continua sendo a nossa palavra. Não era vento, não era circunstância, era de fato nossa proposta de Política e de Vida e por ela continuaremos a nos guiar, não importam quais sejam as dificuldades, as maledicências, as armadilhas, as ofertas para deixar por menos.
Como alguém já disse, o ideal que move as pessoas para melhorar o mundo em que vivem, e onde no futuro outros irão viver, deve estar na popa e não na proa, a nos impulsionar para o futuro. Não é hora de ser pragmático, é hora de ser sonhático e de agir pelos nossos sonhos."
Leia a íntegra da nota do PV:
"Nota de esclarecimento aos brasileiros
O Partido Verde e sua candidata fizeram nascer nos corações e mentes de milhões de brasileiros a idéia de uma terceira via possível, uma alternativa consistente ao quadro simplista que nos era apresentado, de um Brasil com apenas duas portas que poderiam ser abertas em direção ao futuro. Não apenas nos consolidamos como uma opção política concreta. Influenciamos a reformulação das plataformas dos dois candidatos alçados ao segundo turno das eleições presidenciais, mediante a inserção da questão moral e ambiental como tema de peso a ser considerado.
O Partido Verde e sua candidata, Marina Silva, fizeram história. A campanha que levou a causa verde para um número de brasileiros que nem nós no princípio esperávamos marcou-se pela sintonia perfeita entre o partido político e sua candidata. A luta em prol de uma sociedade equilibrada e justa do ponto de vista social e ambiental está e continuará no cerne das preocupações do Partido Verde.
Por essa luta, esforços foram empreendidos e dificuldades iniciais superadas. O Partido Verde tem como marca teses avançadas e pioneiras, que sempre abrangeram, além da questão ambiental, o apoio à luta das minorias e a defesa de temas como a união homoafetiva e a descriminalização do aborto e das drogas, entre outros. Com generosidade e respeito às diferenças, para receber Marina Silva sem quaisquer freios, estabelecemos a cláusula de consciência, que permite que filiados explicitem suas posições pessoais em relação a itens do programa partidário em face de convicções religiosas. Reconhecendo desde o início a relevância política de Marina, foi alterado, também, o número de membros da Executiva do partido, de maneira a abrir espaço a vozes diretamente ligadas à futura candidata.
Também fomos o partido que lançou o maior número de candidatos aos governos estaduais com o objetivo de consolidar a candidatura presidencial, o que dificultou o fortalecimento da nossa bancada Federal, que baixou de 15 para 14 deputados. Com olhar para o país, assumiu-se que o partido e Marina deveriam se empenhar para estar em plena convergência.
Não podemos nos furtar, todavia, a expressar nossa posição sobre a situação que gerou a polêmica em torno da possível saída de Marina Silva de nosso partido. Consideramos que estamos passando por nossa primeira grande crise de crescimento. O Partido Verde e suas lutas, entretanto, são maiores do que qualquer pessoa. Temos certeza de que ultrapassaremos os problemas atuais e sairemos fortalecidos desse processo.
Deve ser dito que não nos recusamos, em momento algum, a efetivar aperfeiçoamentos nas regras que moldam o funcionamento de nosso partido. Estão programadas atualizações programáticas e elas ocorrerão, no tempo oportuno dos verdes, e como decorrência de amplo debate interno e com a sociedade, não da imposição de grupos determinados que integram o partido. Cabe explicar que, no atual estatuto do Partido Verde, não se apresentam quaisquer óbices à participação dos filiados nos processos internos de tomada de decisão. Muito ao contrário.
A transformação dos partidos políticos, como toda construção social, necessita ser conduzida de maneira democrática e responsável. Os processos nesse sentido devem ter como base a tolerância, a abertura para negociação, a persistência, a paciência e a humildade. Não abriremos mão das discussões necessárias, francas e abertas, antes de efetivar modificações na organização e na dinâmica de nosso partido.
O Partido Verde lamenta muito essa falsa polêmica artificialmente inflada sobre a falta de democracia interna, que tem gerado distorções injustas na imprensa brasileira. Continuaremos sempre abertos para receber em nossas fileiras pessoas que entendem que a luta pelo coletivo é muito mais relevante do que a luta pelo individual. A construção da sociedade do futuro demanda trabalho árduo e permanente, que não pode prescindir de cidadãos dispostos a ajudar. Enfatizamos, contudo, que, independentemente de qualquer pessoa, o partido opta por continuar pautado por seus princípios e ideais.
Os signatários deste documento veem no Partido Verde um instrumento cuja existência só faz sentido na medida em que sirva para transformar concretamente a realidade, mediante a ampliação da democracia e da equidade social. Comprometem-se publicamente a promover amplos debates, com seus filiados e com a sociedade de forma geral, para continuar formulando e atualizando sistematicamente os posicionamentos do partido em relação aos principais temas que afetam os brasileiros.
Mantêm os seguintes compromissos:
Preparar o partido para a atualização estatutária e programática, a ser aprovada em convenção nacional que será realizada em março de 2012;
Mobilizar o partido para responder da forma devida aos principais temas em pauta no país, como a reforma política e a reforma tributária, assim como para enfrentar a pressão por retrocessos na legislação florestal e pela implantação de novas usinas nucleares, entre vários outros assuntos importantes que poderiam ser citados;
Preparar o partido para as eleições municipais, estimulando candidaturas próprias, especialmente nos municípios onde houver dois turnos de votação;
Promover o recadastramento dos filiados, simultaneamente a uma grande campanha nacional por novas filiações."
Mobilizar o partido para responder da forma devida aos principais temas em pauta no país, como a reforma política e a reforma tributária, assim como para enfrentar a pressão por retrocessos na legislação florestal e pela implantação de novas usinas nucleares, entre vários outros assuntos importantes que poderiam ser citados;
Preparar o partido para as eleições municipais, estimulando candidaturas próprias, especialmente nos municípios onde houver dois turnos de votação;
Promover o recadastramento dos filiados, simultaneamente a uma grande campanha nacional por novas filiações."
EXECUTIVA NACIONAL DO PARTIDO VERDE"
Fonte: Apud Congressoemfoco
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